Embora a saúde mental infantojuvenil tenha piorado no Brasil como consequência da pandemia de covid-19 e casos de violência tenham aumentado, algumas iniciativas vêm demonstrando boas práticas na promoção de saúde nas escolas. Entre elas, o Programa Viver com Saúde, um projeto da Fundación MAPFRE, com o apoio técnico da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e em cooperação com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
O programa tem o objetivo de promover a saúde mental e emocional nas escolas, a partir da capacitação de professores da rede pública de ensino, que, posteriormente, disseminam o tema entre os alunos, organizando campanhas e atividades de conscientização. Ao todo, acontecem 11 formações, que discutem o funcionamento do cérebro e das emoções, como favorecer o desenvolvimento da saúde mental e mantê-la adequada, bem como a forma de garantir um clima escolar propício para os processos educacionais. Em 2022, a capacitação alcançou 91 diretorias de ensino e 5.058 escolas.
“A partir de casos concretos, o Viver com Saúde apresenta temas técnicos, como, por exemplo, a maneira de identificar sinais de sofrimento mental e formas da escola se conectar à rede de saúde para evitar o adoecimento dos estudantes”, explica o professor doutor da Unifesp e desenvolvedor técnico do Programa Viver com Saúde, Anderson Rosa.
O tema é urgente no mundo todo, já que mais de 13% de crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos vivem com diagnóstico de transtornos mentais definidos pela Organização Mundial da Saúde. Entre eles, os mais frequentes são ansiedade e depressão. Os dados são do estudo “On my mind – promoting, protecting and caring for children’s mental health”, último panorama mundial sobre saúde mental publicado pelas Nações Unidas.
Apesar disso, de acordo com Anderson, são minoria os casos em que há necessidade de ajuda especializada no âmbito da saúde: a maioria das pessoas não têm processo de transtorno mental e o simples fato de receber cuidado e amparo da escola é suficiente para atravessar um momento desafiador. “Às vezes se trata de questões do dia a dia e não de um adoecimento. Até mesmo os colegas podem estar atentos para identificar mudanças de comportamento e saber como encaminhar a questão para um adulto”, afirma o professor.
Disseminação de boas práticas
Como ressalta a representante da Fundación MAPFRE no Brasil, Fátima Lima, as informações de qualidade difundidas por meio do programa estimulam a escola a ser um ponto de promoção da saúde. “O programa une o conhecimento científico ao estímulo da produção artística e lúdica para que toda a comunidade escolar possa estar bem-informada e envolvida ativamente na temática”, diz.
Em 2022, as iniciativas desenvolvidas na rede pública estadual por meio do Programa Viver com Saúde concorreram ao prêmio “Arte pela Vida”, que destacou as 20 melhores práticas na comunidade escolar.
Entre as três vencedoras está a Escola Estadual Professor Neusa Maria do Bem, de Ribeirão Preto, na categoria música. A ação realizada na unidade escolar teve a intenção de estimular o protagonismo juvenil. Coletivamente, os alunos optaram pela composição da música “Viva”. Aqueles que não sabiam tocar nenhum instrumento musical fizeram o coral, e outros ainda assumiram a captação de áudio e vídeo da apresentação e os bastidores da produção.
De acordo com o depoimento da direção da escola, ao longo da atividade, ficou evidente que alguns estudantes que apresentavam forte timidez e isolamento no cotidiano escolar conseguiram interagir e até estiveram à frente das propostas, da execução e da apresentação para toda a escola. “Isso despertou no grupo um sentimento de união, pertencimento, superação e, principalmente, orgulho pelo resultado obtido”, afirma a escola em depoimento.
As experiências que acontecem desde 2021 no contexto do Viver com Saúde, com dicas de como realizar um trabalho formativo nas escolas, estão publicadas em dois livros sobre saúde mental, produzidos por especialistas no tema. Os materiais podem ser acessados gratuitamente pelo site da Fundación MAPFRE. Em 2023, o programa segue para o terceiro ano de atuação e inicia formações em Minas Gerais e Bahia, em parceria com as respectivas secretarias de Educação.