Que o mundo mudou, ninguém discorda. Ainda mais nesse tempo que vivemos pós-pandemia. Decisões políticas que dividem uma nação e, consequentemente, muitas famílias… Enquanto tudo acontece no mundo lá fora, no interior da família, dúvidas sobre como educar, por qual caminho seguir, são latentes e tiram o sono de muitos pais.
Antes de trazer caminhos possíveis, sugiro uma reflexão essencial. Imagine que você atua em uma grande empresa e que o seu setor será totalmente reformulado, nada do que você fazia será igual. A empresa garante que ninguém ficará sem o seu emprego, porém todos terão que se adaptar, terão que se reinventar, terão que se conectar de uma forma diferente, a comunicação também deverá ser outra. A empresa deixa a critério de cada pessoa ficar ou sair, qual seria sua decisão?
Continuando nossa reflexão, farei um pequeno levantamento de dados atuais sobre a população brasileira. Segundo estudos e dados da OMS, o Brasil se mantém na posição do país mais ansioso do mundo, o 3º mais depressivo e Burnout (esgotamento por conta de excesso de trabalho), é apresentado por 18% da população adulta.
Diante destes dois cenários que apresentei aqui, você consegue compreender a necessidade de educarmos de forma diferente os nossos filhos? Na cena que pedi para você imaginar, ela reflete exatamente o que os nossos filhos nos propõem, é um convite imenso, uma grande oportunidade de nos entregarmos ao novo, de ressignificarmos a nossa história, a partir da criação deles. Nos dados atuais, refletimos o quanto a educação tradicional, patriarcal e autoritária, trouxe consequências para a nossa sociedade. O que fazer?
Em primeiro lugar, volte a essência, retome a conexão, o amor. Somos seres humanos, somos seres amorosos e bondosos por essência, se observarmos a criança ela é a pura conexão com suas necessidades e com o amor. Um bebê chora e solicita o que necessita, na certeza de que um adulto acolherá suas necessidades. Que possamos ser o adulto que acolhe, que se conecta com a criança, que se permite viver no amor, e que sai da cobrança, do certo e do errado, e se entrega a relação. Relação que tem trocas, que pode ter divergências, mas que tem respeito e muito amor.
Resgate a escuta. Escutar é diferente de ouvir e é uma habilidade humana e comportamental essencial nos dias de hoje, ela é uma soft skills. Escutar é permitir que a fala, a demanda da outra pessoa que chega até você, tenha ressonância em sua vida. Nem sempre vamos escutar o que concordamos, ou o que queremos, mas podemos refletir, e estabelecer um diálogo que seja colaborativo, que tenha como propósito a troca e não a competição.
Pare de comprovar ao seu filho seu cansaço, seu esforço, suas batalhas. Apenas acolha o que ele te conta e assim desenvolva a empatia. Quando chegamos em casa após um dia inteiro de serviço, provavelmente estaremos cansados e desejando paz e silêncio; porém na contrapartida nossos filhos passaram o dia todo aguardando este momento, querendo um abraço, querendo atenção e também devem estar cansados. Quando uma mãe, um pai, escuta: “Hoje meu dia não foi bom, hoje estou cansado, hoje o dia foi chato…”, no automático a tendência é competir com aquela colocação: “Você não sabe o que é um dia ruim, você não imagina o que é um dia chato, você está cansado? Só brincou!”. Neste automático competimos com os nossos filhos e não acolhemos o nosso cansaço e o deles, a mudança está em: “Também estou cansado hoje. O que foi chato? Como você lidou com a chatice? Eu lido desta forma…”. Neste caminho construo troca, relação, e desenvolvo com meu filho inúmeras habilidades humanas e comportamentais.
Ouvir um novo caminho pode parecer utópico e pouco acessível, eu garanto que ele é possível e o futuro da humanidade se encontra aqui, pois como iniciei este conteúdo, os resultados atuais da sociedade adulta mostram o quanto nos falta saúde mental, emocional e habilidades socioemocionais. Não digo que é fácil, mas extremamente possível, e que o começo é ter consciência da mudança e depois praticar, até que se torne o seu natural.