Com foco na educação para além da sala de aula, os colégios Qi e Ao Cubo, do Grupo Raiz Educação, realizaram ontem (24) o evento “Formação Socioemocional e Cultura de Paz nas Escolas”. O encontro foi gratuito e aberto ao público, tendo recebido toda comunidade escolar de instituições públicas e privadas.
O evento contou com palestras de Antônia Burke, responsável pelo Programa Raízes, projeto socioemocional escolar do Grupo Raiz Educação; Wilmann Costa, doutor em psicanálise e vice-presidente do Conselho Municipal de Educação do Rio de Janeiro e Ricardo Krause, psiquiatra da infância e adolescência titulado pela Associação Brasileira de Psiquiatria. Os diretores dos Colégios Ao Cubo, Rafael Pinna, e Qi, André Marinho, também participaram do debate.
Durante a palestra, Antônia Burke explicou a importância da formação socioemocional de crianças e adolescentes em idade escolar. “Todo nosso trabalho no Programa Raízes, do Ensino Fundamental ao Médio, é baseado em três pilares. O primeiro de desenvolvimento emocional, com dinâmicas que trabalham autoestima e autoconhecimento. O segundo, de debate e argumentação, quando falamos sobre assuntos que eles já consomem, como racismo, capacitismo, ética e direitos. Nesse momento, sempre deixamos os alunos falarem para que seja possível gerar reflexões. Por fim, o terceiro pilar é de autogestão e produtividade: faz parte do processo ensinar o aluno a estudar para que a gente não desperdice tantos talentos como fazemos hoje em dia”, refletiu a educadora.
Com experiência na gestão de escolas públicas, o educador Wilmann Costa explicou que muitos pais e responsáveis contestam a necessidade de implantação de uma educação preocupada com as competências socioemocionais.
“É sempre preciso trazer a família para a escola. As pessoas acham que o ENEM é uma prova que cobra apenas o conteúdo tradicional. No entanto, ainda que o aluno seja acima da média, se não houver disciplina e concentração emocional para fazer a prova, serão encontradas dificuldades. E se mesmo sem possuir características socioemocionais equilibradas ele conseguir passar no exame, a dificuldade virá mais adiante, provavelmente será difícil sua manutenção no mercado de trabalho”, constatou Wilmann. “Eu sempre falo que o gênio que não sabe trabalhar com o outro é um gênio desempregado”, completou.
Já o psiquiatra Ricardo Krause ressaltou que a capacitação socioemocional não deve ser restrita aos alunos. “A capacidade de adiar o prazer é um indicador direto de maturidade. Nesse tempo em que todo mundo tem que ser feliz o tempo todo e não pode adiar a gratificação, não é dado limite. Os próprios pais estão vivendo uma grande epidemia de adolescência. Dar limite não é uma coisa simples. Cada um vai dar limite de acordo com a sua maneira de lidar com as questões do mundo que recebeu”, refletiu.
Cultura de paz deve abranger toda comunidade educativa
Na opinião do diretor-geral do Colégio Ao Cubo, Rafael Pinna, o evento mostrou a necessidade de alinhar condutas que permitam um ambiente seguro, sereno e produtivo para educadores, estudantes e famílias.
“É tão difícil quanto importante falar sobre o papel dos colégios e da formação socioemocional no combate aos casos de violência na escola, principalmente depois de um longo período de medo e incerteza devido à pandemia. Para muitas instituições, esse desafio é novo, e o pânico leva à busca de soluções radicais e imediatistas que não resolvem nada. De modo estratégico, a partir da experiência de especialistas, é possível abandonar esses atalhos”, afirmou o gestor.
Por sua vez, o diretor-geral do Colégio Qi, André Marinho, considera a promoção da cultura de paz um objetivo comum às instituições que organizam o evento.
“Consideramos que o fortalecimento da comunicação ativa com nossa comunidade escolar, bem como o desenvolvimento de ações educacionais, culturais e, em especial, socioemocionais, contribuem diretamente para a afirmação da democracia e para a formação de cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres. Essas ações são importantes por se contraporem aos movimentos que tentam disseminar a cultura do medo não apenas no ambiente escolar, mas também em toda a sociedade”, avaliou.