Certa vez ouvi de uma grande referência do meio acadêmico que Educação exige sangue, suor e lágrimas daquele que educa e se propõe a ser professor. Exige ainda, resiliência, entrega, empatia e amor. Exige travar batalhas diárias que exaurem o professor.
Mas o professor ¨raiz¨ e com a verdadeira vocação, não foge a luta e mesmo envolto em dores e falta de reconhecimento, continua com passos firmes e determinado a mudar a história de vida de alguém, de famílias e de seu país.
Na dor de sua persona (palavra derivada do latim que expressa a condição psíquica responsável pela interação entre o ser e a comunidade a qual está inserido o indivíduo, que é o foco da discussão; e suas dores, anseios, necessidades), podemos discorrer sobre muitas queixas: baixa remuneração, falta do reconhecimento, falta de capacitação, falta de colaboração, muitas imposições vindas daqueles que dirigem as escolas, normativas e legislações. Tudo Junto e misturado num universo diverso e bem particular das escolas.
Professor, entendo sua dor, seu cansaço e dissabores. Mas seu lugar é transformador e nesta contemporaneidade é necessário ser inovador, se colocar no papel de coadjuvante para deixar seu aluno florescer em sua essência e a sociedade se renovar.
Com a pandemia, professores foram arremessados, mesmo sem querer, em um universo tecnológico para muitos desconhecido e precisaram se reinventar, se ressignificar e se colocar novamente no papel daquele que aprende. Tiveram que se qualificar para se manter conectado ao lócus da Educação e a uma nova sala de aula, que agora é também virtual. Tecnologias da Educação, hoje compõem seu universo para a criação de práticas pedagógicas assertivas, para alunos que dominam e se interessam por tecnologias.
Mesmo o mais resistente precisou utilizar metodologias ativas para se aproximar do espaço de aprendizado e de seu objetivo de vida que é o de ser transformador na vida dos verdadeiros protagonistas: aqueles que aprendem.
Independente do lugar, a Educação empodera. Capacitação não pode ser vista apenas como chatice, conteúdo, entrega de exigências e afazeres para aqueles que devem ensinar e transformar vidas.
A pandemia nos desvendou. Mostrou a importância da escola para a socialização, para a troca de experiências, para a formação do cidadão, a diversidade das salas de aulas e o cansaço que muitas vezes se esconde atrás de resistências às mudanças, a novos conteúdos e capacitações que podem fazer a diferença na vida de educandos que também sofrem com as mazelas sociais e pessoais.
Analisando novamente a persona, em suas diferentes posições, detectamos dores diversas no contexto escolar: das famílias, dos professores e dos alunos. Cada um buscando dentro da grande diversidade do ambiente escolar, sobreviver e se reestruturar em um cenário de calamidade e desconstrução que a pandemia agravou, mas que já estava clamando por mudanças e reestruturações.
Este aluno e professor da Contemporaneidade têm papéis semelhantes de protagonismo, uma vez que ambos estão reaprendendo condições novas e estratégias para aprender e ensinar, e isto está ocorrendo mutuamente. Na escola todos aprendem o tempo todo. E o tempo todo precisam estar abertos a mudanças e a ajudas. O protagonista é aquele que aprende.
Ouvi também de professores e colegas pesquisadores, que agora na escola todos querem interferir no ambiente educacional, muitos palpites, muitas contribuições. Tem o médico, o fonoaudiólogo, o psicólogo, o psicopedagogo, o assistente social. Mas onde fica o lugar e as aspirações do professor? Reafirmo que hoje é necessária a reformulação e união entre Saúde e Educação. Os espaços e demandas mudaram com a pandemia e com os avanços tecnológicos.
É urgente o entendimento que é preciso ressignificar o processo; sair do lugar e da soberba de saber tudo e ser aquele único agente que ensina. Ainda se utiliza técnicas pouco atrativas, conteudistas e engessadas nas escolas contemporâneas para alunos que dominam as ferramentas digitais e estão expostos às tecnologias e informações em tempo real. E educar, é ir além. Ir além das páginas dos livros, dos muros da escola, é empoderar o outro de conhecimento, torná-lo empático e colaborador, inovador e engajado nas novas práticas pedagógicas a serem desenvolvidas.
As competências do séculos XXI, precisam ser a base para que estas práticas pedagógicas se reestruturem e sejam o diferencial entre o mesmo e o novo.
Somos todos contemporâneos, mas não vivemos está contemporaneidade da mesma maneira e com os mesmos direitos como nos assegura a constituição. A realidade e a exclusão social ainda são cicatrizes que mostram que o Brasil, ainda insiste em manter o passado histórico de injustiças sociais, racismo e desigualdades vivo em nossa sociedade.
As neurociências já comprovaram que só aprende aquele que é estimulado por conteúdo significativo e afetivo, e que esses jamais serão esquecidos. A hierarquia do falo e você escuta, do faz como eu mando, do faz igual a todo mundo, castra a criatividade do aluno e o afasta da escola e de tudo que diz respeito à aprendizagem. Isto precisa ser ressignificado e modificado.
É possível ministrar o extenso currículo e denso conteúdo de forma prazerosa para seus alunos. Por uma questão mercadológica, as escolas conteudistas são preferidas em detrimento às inovadoras. Precisamos entender e fazer os pais, professores e alunos entenderem que as exigências do novo mercado de trabalho estão em constante transformação. E a escola que eles aprenderam, estudaram e se formaram não é mais a que a contemporaneidade precisa e que se reestruturar faz parte do processo nesta contemporaneidade.
E vamos juntos nesse movimento de valorização da Educação, da Educação Infantil, do protagonismo daquele que aprende e de capacitação e suporte tanto financeiro quanto emocional para os nossos queridos professores.
Sobre a autora
Luciana Cordeiro Felipetto é fonoaudióloga educacional. Mestre em Ciências da Educação. Especialista em psicopedagogia, palestrante nacional e internacional. Escritora do livro “A descoberta do mundo das letras”, pela Wak Editora