Eis aqui um belo caso para testar seus conhecimentos jurídicos, valores morais e culturais. Paulo e Ana eram recém-casados e viviam felizes. No entanto, passados dois anos, Paulo voltou aos amigos – e com eles aos bares e às farras –, começando a chegar tarde em casa.
Ana chorou, implorou e nada. Sentindo-se abandonada, Ana procurou Cláudio, do outro lado da ponte, e tornaram-se amantes. Num final de tarde, depois de encontrar-se com Cláudio e voltando para casa, foi atacada por um bandido na ponte. Conseguiu fugir, correu para a casa do amante e pediu proteção.
– O problema é seu! – respondeu secamente ele.
Desamparada, Ana juntou forças e procurou um amigo, vizinho de Cláudio, que interesseiro se fez valente:
– Ana, vou com você enfrentar esse facínora!
Qual nada! Ao se defrontar com o bandido, acovardou-se e ambos fugiram. A noite caiu e, aterrorizada e temendo as reações de Paulo por não a encontrar em casa, Ana, sem alternativa, procurou o barqueiro para atravessar o rio de canoa. O homem foi rude:
– Só por R$ 500,00, grana na minha mão!
Sem dinheiro, Ana implorou, suplicou, mas o barqueiro permaneceu intransigente.
– Que fazer? – pensou Ana. – Só me resta enfrentar o bandido!
Assim o fez e, lamentavelmente, foi morta pelo bandido.
São 6 personagens: Paulo, Ana, Cláudio, o bandido, o amigo e o barqueiro. Quem cometeu o maior erro?
Pensamentos da Sabedoria Clássica à Popular
- “O importante não é o que fizeram de nós, mas o que fazemos do que fizeram de nós.”
Jean Paul Sartre (1905-1980), escritor e filósofo francês - “É bom ter dinheiro e as coisas que o dinheiro pode comprar. Mas é bom também verificar de vez em quando
se não estamos perdendo as coisas que o dinheiro não pode comprar.”
George Horace Lorimer (1867-1937), editor norte-americano - “Na boca de quem não presta, quem é bom não tem valia.”
Chico Anysio (1931- 2012), humorista, produtor, roteirista, nascido em Maranguape, Ceará
Resposta da história de Ana
O bandido, pois foi o único a cometer um crime. No entanto, a história de Ana é uma tragédia de erros e escolhas infelizes. Paulo, ao negligenciar o casamento, desencadeou uma cadeia de eventos que levou Ana ao desespero. Cláudio (o amante), ao rejeitar Ana no momento de maior necessidade, mostrou uma falta de compaixão. O amigo, ao falhar na promessa de proteção, revelou covardia. O barqueiro, ao se recusar a ajudar sem pagamento, demonstrou ganância. E, finalmente, o bandido, cuja ação violenta resultou na morte de Ana, cometeu o ato mais condenável.
Essa história ensina que nossas ações têm consequências e que a indiferença e a falta de empatia podem ser tão destrutivas quanto a maldade explícita. A moralidade não reside apenas em evitar o mal, mas também em fazer o bem, especialmente quando os outros estão em perigo. Apliquei-a na escola como um teste por escrito da narrativa acima, para estudantes do Ensino Médio, isso há um bom tempo. Fiquei surpreso com as respostas: quem mais errou foi Ana (28%), Paulo (24%), o bandido (19%) e na sequência o amante, o barqueiro e o amigo. Entendo que essa narrativa convida a uma reflexão sobre valores morais, culturais e legais.